A África entre o passado e o futuro
- siteaproffib
- 28 de mai.
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A ÁFRICA ENTRE O PASSADO E O FUTURO
O dia 25 de Maio, desde a fundação da Organização da Unidade Africana em 1963 (convertida em União Africana em 2002), ficou na história como o Dia de África. Comemorar esta data é, em si, um acto de africanidade e de respeito pelas vidas dos africanos que tombaram no campo de batalha para recuperarem a nossa dignidade humana e nos legarem o direito de sermos artífices do nosso devir histórico. Em toda a extensão territorial do continente negro e nas diásporas, a efeméride é celebrada com pompa e circunstância, com manifestações artísticas e exposições gastronómicas diversas, que reforçam o sentimento de identidade. A melhor maneira, no entanto, de comemorar esta data, para os filósofos que somos, é fazer o que o ofício nos impõe fazer: usar publicamente da palavra para reflectir em torno da África que merecemos e queremos.
Comemorar (de commemorare, em latim) tem um duplo sentido principal: celebrar e recordar com. De que nos devemos recordar juntos, hoje, que nos dê motivos para celebrarmos juntos hoje e, sobretudo, amanhã? O devir africano está grávido da memória. O simples facto de nos chamarmos africanos, com todo o orgulho que comporta, deriva da heroicidade da nossa gente, da bravura dos que nunca resignaram até que o sol da liberdade raiasse, inscrevendo a africanidade como busca abnegada de liberdade e do triunfo do verdadeiro humanismo. A OUA emergiu como uma antítese esperançosa nessa progressão dialéctica rumo a uma completa liberdade das terras e seus legítimos habitantes. Não foi sinal de derrota total, porque, apesar de desorganizados e desunidos, existimos; mas, também, não foi vitória total, porquanto o sonho ainda não se realizou na sua plenitude. Vergámos, todavia não caímos, por isso ainda podemos marchar.
Algo foi ganho, todavia muito falta por conquistar. Independências e nacionalidades, autogoverno e soberania, são conquistas que exigem uma reconquista. Estão diante de nós, como imperativo, os ideais de unidade, solidariedade e cooperação na luta contra o neocolonialismo, o subdesenvolvimento e a instabilidade social e pela construção da paz, desenvolvimento e felicidade de todos os africanos. Comemorar África, então, é um acto político e de esperança; um chamado para o engajamento em prol do melhoramento das nossas vidas. Menos sentido faria celebrarmos África sem nos recordarmos juntos das nossas responsabilidades, sem transformarmos a memória numa oportunidade para projectar uma África que nos dê razões para celebrarmos.
Severino Ngoenha & Ergimino Mucale.
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