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Esquerda e Direita

Atualizado: 28 de set. de 2023

Por Elton Luiz Leite de Souza

- Filósofo e pesquisador da obra do poeta Manoel de Barros

- Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro


Texto publicado no Blog Multitudo: poesia, arte & filosofia, em 12 de março de 2023.

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Esquerda e Direita


Certa vez , perguntaram ao filósofo Gilles Deleuze por qual razão ele nunca foi filiado a um partido, e aproveitaram também para indagá-lo acerca do que é ser de esquerda.

O filósofo deu mais ou menos a seguinte resposta: antes de ser um posicionamento político-partidário, ser de esquerda expressa o modo como nos inserimos na existência.


A pessoa de direita parte, antes de tudo, do seu ego. Ela vive no interior de um círculo no qual estão seus interesses, suas propriedades (já possuídas ou apenas desejadas), suas ambições, suas pretensões, suas opiniões...


Mas também ocupam o círculo estreito do ego seus medos, seus ressentimentos , seus fantasmas, suas feridas mal curadas...


O homem de direita imagina que esse círculo estreito é o centro do mundo, de tal modo que tudo o que existe fora desse círculo, no espaço e no tempo, é para ele só “narrativa”. Daí seu desprezo pela ciência, pela história, pela sociologia e pela filosofia, e seu medo paranoico dos outros povos e suas maneiras diferentes de viver, medo esse traduzido na expressão “globalismo comunista”.


Pode parecer paradoxal, mas apenas seres que vivem num círculo existencial estreito adaptam-se a existirem no interior de um rebanho ou massa. Pois rebanho não é um conjunto heterogêneo de singularidades, rebanho são indivíduos aprisionados a si mesmos e que se agregam em celas contíguas.


Ser existencialmente de esquerda, ao contrário, é partir daquilo que Espinosa chama de o Absolutamente Infinito. A percepção de esquerda se abre ao que não pode ser cercado ou contido, para que a mente e o coração ligados a tal percepção permaneçam sempre abertos.


É a partir do infinito aberto que o ser existencialmente de esquerda compreende que desse infinito fazem parte o cosmos, o nosso planeta, as outras nações, o nosso país, a nossa cidade, o nosso bairro , o outro e, enfim, a sua pessoa.


Ser de esquerda é não se colocar como primeiro ou último numa concorrência, mas como parte singular de realidades mais amplas e horizontadas (como ensina também Manoel de Barros).


Ser de esquerda não é apenas compreender teoricamente isso, mas sobretudo agir a partir dessa percepção. E dessa percepção podem nascer não apenas ações empáticas, solidárias, generosas , dignas , justas , corajosas e revolucionárias, pois dessa percepção também podem nascer poemas, músicas , artes e educação não menos revolucionárias.



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